sábado, 18 de outubro de 2008

Maio de 2006 - Lamento de um cego arreigado ao que não vê

(usando a escrita como bisturí)

Eu sou de mim as partes por outrem queridas
e da inconstância dos quereres se constrói a imagem de mim mesma.
Descontínua, intermitente, frouxa,
entre apaixonada e mal-amada se vai tendo,
massa informe à mercê do amor alheio.
Mas como excele nisso! Capaz de ser quase tudo e menos mal, anda perdida
por não ser nada
completamente.
Oh quem me dera bastar-me a mim mesma
e saber o que sou com mais prazer e qualidade…
Quem é a rapariga que em mim viaja,
eu que comando o seu corpo,
algoz das suas potencialidades…
Quem me dera saber - para guiá-la -
ou conseguir largar - para deixá-la ir,
e alojada nela assistir ao desabrochar de uma existência.
Nascer não é difícil…
Acordar para a Vida,
Amar a Luz!
Mas depois disso, saber ouvir a alma
encontrar-lhe o caminho, a felicidade…
Ou então largá-la, deixar que a encontre!

Mas como? Não vejo nada…

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