terça-feira, 1 de setembro de 2009

Inviável

E a noite caía. Caía todos os dias, abrupta, a pique. Nunca se dava conta da sua chegada, embrenhada que estava nos mil afazeres diários. Olhava para trás, acossada pela escuridão, e não encontrava nada. Nada feito, nada visível, nada consequente. Que fizera, afinal, nas doze horas do dia? Em breve teria de se deitar, em breve o corpo não aguentaria mais. E nada feito, nunca nada mais que um vazio ao fundo do dia, sublinhado por um resto ressequido de projecto ou sonho, matéria colorida e promissora mas que nunca chegava a ganhar forma, nunca saía daquele estado jocoso e colorido, alegre e infantil, volátil… Por vezes eram dias seguidos, meses… chegaram a ser meses num projecto só. E no fim, nada. Resquícios, promessas cada vez mais amargas. Solidão e cores secas no fundo do dia como no fundo de um copo, à entrada da noite.

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