terça-feira, 1 de setembro de 2009

Impressões do Allgarve

Gostei muito de ter ido ao Allgarve. Vi coisas que já conhecia, coisas novas, coisas em novos diálogos provocantes… Vi com a Mia obras de que lhe falara sem poder mostrar, e isso foi importante.
Vi o resultado de um workshop e tive a certeza de que quero fazê-lo, talvez para o ano, talvez sob outra forma, mas quero ir por ali. Quero voltar a enterrar as mãos nas entranhas e a expor o que nelas vive e se acoita. Quero fazê-lo porque de outra forma creio que não poderei sobreviver. Foi bom saber que ia haver Mobilehome para o ano, de novo. Quem sabe…
Do plano previsto, falhámos a noite de sexta em Silves. Podres demais pela viagem e por uma semana inteira de luta, decidimos mimar-nos com as iguarias possíveis, a ternura que é o nosso maior trunfo e mais uns pós de romance, precocemente adormecidos como crianças no início da festa.
Sábado acordámos com o Sol, molengámos até um "English Breakfast" junto à praia, e rumámos a Loulé. Ferve, essa vila (cidade?)! Havia “Noite Branca” com trinta mil espectáculos, festas de rua, as exposições todas (sim, porque só ali são cinco!) abertas até à uma da manhã. Foi o que nos valeu, porque depois de marcarmos a Mina (in extremis, que afinal decidiram fechar mais cedo e era o último dia) e de vermos a colecção da Caixa, descemos a Faro para as Paisagens Oblíquas (que fechavam às 18h)… E depois da Mina (um deslumbramento, apenas ferido pela barulheira infernal que o público fazia, não sei porquê. Deu-me vontade de me esconder e passar lá a noite, para poder sentir o verdadeiro silêncio daquelas rochas de sal, o verdadeiro peso daquele Timeless Territory. Mas pronto, as visitas podem, eventualmente, marcar-se com a CUF… Hei-de tentar! Quando voltei de debaixo da terra, pareceu-me que vinha mais leve...).
Depois da Mina, dizia, voltámos a descer para uns mergulhos, apanhámos o resto de sol do dia na pele, e fomos jantar por ali, a sentir que o tempo parara e a fazer de conta que eram férias a sério. À noite apanhámos as outras três exposições em Loulé, espaços sagrados de magia redobrada pelo contraste com as ruas, tão cheias do bulício da gente vestida de branco que mal se conseguia andar.
Não me interpretem mal: achei piada à “Festa Branca”. Mas, de facto, com aquelas exposições todas ali, exalando significantes mágicos entre cor e formas e ideias, mexendo-nos por dentro… a “Festa Branca” não tinha qualquer significado, mensagem, conteúdo. Era uma festa, apenas. E branca só porque sim. Desfilavam avós e netos, pais e mães, irmãos mais velhos e mais novos, desfilavam as mesmas caras jovens da noite lisboeta ou de outras noites quaisquer, desfilava tudo alegremente – e isso é bom, claro – mas sem uma afirmação, sem uma vontade, sem uma identidade ou projecto maior. A Mia irrita-se, claro. Eu observo. Para onde vamos nós? (ainda existe o nós?) Já não sei. Confio apenas. Confio no curso da vida, que nos trouxe da sopa primordial até aqui. Confio que vai ficar tudo bem , seja lá o que isso for. Confio e largo o fardo. E desconfio... que confio talvez apenas porque estou cansada de lutar.

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