quarta-feira, 23 de setembro de 2009

É tão estranho descobrirmo-nos assim por acaso...

...nem sei bem porque fiz a pesquisa. E lá estava ela: Sara Rodrigues, music. No Myspace, com direito a três faixas e tudo. ...de facto não sou eu, definitivamente. Mas não deixa de ser uma coincidência engra... estranha! ...

http://www.myspace.com/sararodriguesmusic

E querem ver? Não tem nada a ver, mesmo...


Outra, do Porto, pinta...

http://www.artmajeur.com/saraferreirarodrigue/

Bem, mas a quantidade de Saras Rodrigues que há no mundo...... e cantam, e pintam, e pregam a Deus (eu acho que fazia uma coisa parecida quando era pequena, também... lol pregava aos putos e fazia enterros aos bichos que morriam às mãos dos torturadores da minha idade que moravam lá na rua... Talvez tenha sido a melhor coisa que já fiz na vida!)...

mais um link que não entra. Caraças, Blogger... Nada funciona na net hoje. Estou farta de estar à espera dos mails e etc... Porra, Doi-me a Cabeeeeça!!!!! :-/
O título é "Missionária Mirim Sara Rodrigues de 07 anos":

Já entrou. Tinha que editar em html, claro... :-P

Já posso morrer em paz, alguma delas há-de encontrar o raio do caminho, que eu hoje em dia não faço sequer ideia onde fica...!

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Impressões do Allgarve

Gostei muito de ter ido ao Allgarve. Vi coisas que já conhecia, coisas novas, coisas em novos diálogos provocantes… Vi com a Mia obras de que lhe falara sem poder mostrar, e isso foi importante.
Vi o resultado de um workshop e tive a certeza de que quero fazê-lo, talvez para o ano, talvez sob outra forma, mas quero ir por ali. Quero voltar a enterrar as mãos nas entranhas e a expor o que nelas vive e se acoita. Quero fazê-lo porque de outra forma creio que não poderei sobreviver. Foi bom saber que ia haver Mobilehome para o ano, de novo. Quem sabe…
Do plano previsto, falhámos a noite de sexta em Silves. Podres demais pela viagem e por uma semana inteira de luta, decidimos mimar-nos com as iguarias possíveis, a ternura que é o nosso maior trunfo e mais uns pós de romance, precocemente adormecidos como crianças no início da festa.
Sábado acordámos com o Sol, molengámos até um "English Breakfast" junto à praia, e rumámos a Loulé. Ferve, essa vila (cidade?)! Havia “Noite Branca” com trinta mil espectáculos, festas de rua, as exposições todas (sim, porque só ali são cinco!) abertas até à uma da manhã. Foi o que nos valeu, porque depois de marcarmos a Mina (in extremis, que afinal decidiram fechar mais cedo e era o último dia) e de vermos a colecção da Caixa, descemos a Faro para as Paisagens Oblíquas (que fechavam às 18h)… E depois da Mina (um deslumbramento, apenas ferido pela barulheira infernal que o público fazia, não sei porquê. Deu-me vontade de me esconder e passar lá a noite, para poder sentir o verdadeiro silêncio daquelas rochas de sal, o verdadeiro peso daquele Timeless Territory. Mas pronto, as visitas podem, eventualmente, marcar-se com a CUF… Hei-de tentar! Quando voltei de debaixo da terra, pareceu-me que vinha mais leve...).
Depois da Mina, dizia, voltámos a descer para uns mergulhos, apanhámos o resto de sol do dia na pele, e fomos jantar por ali, a sentir que o tempo parara e a fazer de conta que eram férias a sério. À noite apanhámos as outras três exposições em Loulé, espaços sagrados de magia redobrada pelo contraste com as ruas, tão cheias do bulício da gente vestida de branco que mal se conseguia andar.
Não me interpretem mal: achei piada à “Festa Branca”. Mas, de facto, com aquelas exposições todas ali, exalando significantes mágicos entre cor e formas e ideias, mexendo-nos por dentro… a “Festa Branca” não tinha qualquer significado, mensagem, conteúdo. Era uma festa, apenas. E branca só porque sim. Desfilavam avós e netos, pais e mães, irmãos mais velhos e mais novos, desfilavam as mesmas caras jovens da noite lisboeta ou de outras noites quaisquer, desfilava tudo alegremente – e isso é bom, claro – mas sem uma afirmação, sem uma vontade, sem uma identidade ou projecto maior. A Mia irrita-se, claro. Eu observo. Para onde vamos nós? (ainda existe o nós?) Já não sei. Confio apenas. Confio no curso da vida, que nos trouxe da sopa primordial até aqui. Confio que vai ficar tudo bem , seja lá o que isso for. Confio e largo o fardo. E desconfio... que confio talvez apenas porque estou cansada de lutar.

Terapia da escrita

O velho mandou-a sentar-se. Como faziam todos. Ouviu-a e pareceu fascinado. Quanto daquele enamoramento seria falso? Nenhum outro médico usara aquela abordagem. Mais do que lisonjeada, sentiu-se traída. “Se este concorda sempre e idolatra tudo o que eu digo, não vai conseguir tirar-me disto…” Ainda assim, estava disposta a tentar, não fosse a despedida com aquele forçado beijo na boca. “Velho de merda!” Mais um que aqui anda a aproveitar-se da fragilidade dos outros para se regozijar na sua. Nunca mais lá voltou.
Mas houve uma coisa que o velho disse que acabou por permanecer sempre firme dentro de si. Uma promessa de recurso, como as rezas das avós, noite alta, velas acesas às santinhas de casa. Disse-me “Escreve. Escreve isso tudo.” E hoje estou tentada a dar-lhe razão. Não pela qualidade da minha escrita, cujas precoces promessas se terão esfumado já há muito pela falta de trabalho e por outros excessos. Hoje, a minha voz no papel quase me irrita, soa pomposa e intermitente, como retalhada por lâminas (as mesmas que me cortam por dentro… por fora nunca o fiz, teria sido terminal). Mas as faculdades terapêuticas devem manter-se intactas. E resolvo tentar.

Inviável

E a noite caía. Caía todos os dias, abrupta, a pique. Nunca se dava conta da sua chegada, embrenhada que estava nos mil afazeres diários. Olhava para trás, acossada pela escuridão, e não encontrava nada. Nada feito, nada visível, nada consequente. Que fizera, afinal, nas doze horas do dia? Em breve teria de se deitar, em breve o corpo não aguentaria mais. E nada feito, nunca nada mais que um vazio ao fundo do dia, sublinhado por um resto ressequido de projecto ou sonho, matéria colorida e promissora mas que nunca chegava a ganhar forma, nunca saía daquele estado jocoso e colorido, alegre e infantil, volátil… Por vezes eram dias seguidos, meses… chegaram a ser meses num projecto só. E no fim, nada. Resquícios, promessas cada vez mais amargas. Solidão e cores secas no fundo do dia como no fundo de um copo, à entrada da noite.