sábado, 31 de janeiro de 2009

2008, Março - uma sombra na sola do sapato

Preciso descolar-me de ti.
Vens-me presa à sola do sapato como uma sombra,
como um desejo usado, uma pastilha elástica (idílico cor-de-rosa),
e não entendo porque ainda me prendes.
Porquê agora que a felicidade chegou?
Porquê agora que começo a encontrar algum equilíbrio e rumo,
agora que os sonhos se confundem com projectos
e o caminho se reafirma, glorioso e partilhado?
Escrita é ilusão,
e eu escolhi a Verdade da vida…
E se deixei a escrita não foi por me ter perdido mas por me ter encontrado,
longe dela.

Tudo o que é Mau está aqui:
o passado, a mentira, o drama,
o peso de uma herança cultural demasiado exigente.
A minha mãe está aqui.
E eu renego-a.
E renegava-te a ti, se conseguisse escolher.
Mas não. Conheceste-me a escrita, e é na minha própria voz que me assombras agora,
num último delírio infundado e negro.
Pensei tocar-te. SEI que era mentira. Mas então, porque me persegues agora?


Sim, preciso da escrita. Nada tem a haver contigo. Preciso, simplesmente, de comunicar. Preciso de quem me entenda. Daquela ilusão de proximidade interior. De me achar um pouco menos “irremediavelmente só”.
Mas também isso é uma ilusão.
Tu a derradeira ilusão, televisionada e produzida enquanto tal.
Tu fria, narcisista, quase interesseira.
Porque te procuro?
Depois da desilusão, do esquecimento, porque te procuro de novo?
Devo ser louca…

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