sábado, 31 de janeiro de 2009

2008, Março - ...continuação da sombra

As pessoas não são inteiras.
As pessoas não são unas, de uma matéria só.
Todos somos retalhos de contradições,
pedaços de outras pessoas,
memórias.
Todos somos furacões de antagonismo,
procurando uma direcção, um sentido,
ou simplesmente avançando e tragando tudo à nossa passagem.
O retalho de mim que tocaste há dois anos
estava escondido no fundo da pilha do eu.
Agora veio ao de cima e procura o seu par ficcionado.
E estou pronta para o cortar de mim! Já tenho par! Já conquistei a minha felicidade!
Mas algo me ata.
“Tens que escrever. És maior do que isso. É o teu Destino.”
Manias de grandeza da minha mãe que ainda não lavei de mim.
Não as quero!
De certeza que é isso…
Senti-as chegar, sorrateiras,
enxaguei-as de Sol e pendurei-as a arejar,
mas nada.
Aqui continuam.
Merda de manias. Não As Quero!

Gostava, claro, de escrever assim a alguém,
e ser correspondida…
Alguém que eu não conhecesse,
que não viesse nunca a tocar, a sentir, a cheirar,
a fazer arrepiar a penugem do pescoço.
Gostava de escrever como quem conta segredos para dentro de um poço,
e recebe a resposta do reflexo.
E depois afastar-me do poço e ir à minha vida,
sentindo-me ao mesmo tempo acompanhada e segura,
sabendo que se eu precisasse, alguém responderia,
e que o poço tudo tragaria sem deixar sair nada.

Um dia não vou desejar um poço,
mas a Luz do Sol, desabrida e nua numa praia deserta.
Nesse dia, estarei à altura de quem me Ama.


Amo-te, Mi… Tem paciência comigo.

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