terça-feira, 12 de junho de 2012

A pedido


Olá... Aqui estou a escrever-te, como prometido. Embora sem nada a dizer. Esta tem sido uma semana cinzenta. Uma semana suspensa. As horas passam na sua sequência habitual, sem que com elas passe qualquer vida. Nenhuma existência, nenhum ímpeto. Apenas o tempo na sua marcha inexorável, apenas as horas. E a minha imobilidade perante elas, a minha impotência.
Entrecortando essa cortina cinzenta, rompem memórias mal semeadas, como cogumelos rebentando a terra. São fortes, gritantes, enraivecidas, inconformadas com a injustiça do que aconteceu. Do que deixei acontecer. Rasgam-me por dentro, coração peito e estômago, esfanicam-me os músculos em estertores trémulos até à inacção, torcem-me a face em esgares e sulcam-ma de lágrimas. Não há Paz. Há o que existiu, a beleza doçura e sabedoria do que existiu, e há o fim abrupto e sem aviso, o fim que eu não soube impedir, nem explicar a quem se viu partir assim. "Pensei que estava a ajudar" é a única frase que balbucio nesses momentos, e a que acorda em mim maior desprezo, maior raiva. Porque é uma desculpa estúpida. Porque eu devia ter sabido. Porque não há como repôr, como trazê-la de volta. Porque esta morte foi uma parede que se ergueu no meu caminho sem sentido, a tentar impedir-me de seguir obliviamente. Mas que me faz sentir, no fundo, a cada instante, que não mereço sequer poder seguir.



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